Para reflexão profunda


"É condição natural do ser humano a busca de um relacionamento mais estável com alguém como parte de suas necessidades. Mas, uma vez encontrado, para muitos, a manutenção do mesmo é uma tarefa difícil. Hoje, uma grande maioria termina em ruptura e um outro grande grupo insiste em mantê-lo, mesmo que ele seja insatisfatório e às vezes até mesmo doloroso. Os primeiros sentem-se frustrados e os últimos são vítimas de conceitos aprendidos erroneamente e que consideram que amor implica em sacrifício, portanto o casamento tem que ser uma sentença perpétua a ser suportada "até que a morte os separe.”.

Um relacionamento saudável situa-se em uma linha tênue, em que de um lado ambos se tornam um, e do outro é indispensável conservar o respeito à liberdade individual. E é exatamente aqui, na dificuldade de encontrar e manter esse ponto exato de equilíbrio que a maioria das experiências amorosas se perde e termina. Quase sempre se estabelece um jogo de poder no qual um é o dominador e o outro o dominado, demonstrando uma completa imaturidade para amar de ambos. Por outro lado, a convivência causa naturais momentos ou períodos de discordâncias e nem sempre há a necessária habilidade para atravessá-los sem arranhões. Freqüentemente transforma-se em um torneio entre duas crianças grandes trocando acusações e culpas com ambos saindo feridos e nenhum vencedor, mesmo quando um se cala e esconde o que está sentindo.

Num relacionamento a dois está a maior prova com a qual alguém se defronta na vida porque nele afloram todos os problemas e fantasmas internos não resolvidos em si mesmo. Então, o outro se transforma em um verdadeiro espelho das próprias negatividades e falhas, refletindo-as de volta a si mesmo. Como poucos são os que se trabalham e crescem o suficiente para admitir os seus próprios erros, vêem estas falhas não como suas, mas do outro. Projeta no outro o que é seu e recusa-se a enxergar. Culpa e acusa no outro falhas que são dele. Ao mesmo tempo quer exigir do outro aquilo que ele mesmo não tem como forma de compensar as suas próprias deficiências. Ama a imagem que criou e não o outro como é. E, pior ainda, sente-se frustrado e com raiva quando o outro não corresponde a fantasia que fez e exige daquele. Aí começam as decepções, não por culpa do outro, mas dele mesmo.

Um relacionamento à dois capaz de conservar um amor verdadeiro sempre revigorado exige, antes de tudo, que cada um faça uma constante avaliação de si mesmo; busque conhecer a si mesmo; não ceda à fácil tentação de acusar e culpar o outro; tenha coragem de enxergar a sua parcela de participação nos conflitos surgidos; tenha a dignidade maior de reconhecer os seus erros assim como de admitir os acertos da visão do outro. Mas, apenas reconhecer não é o bastante. É preciso um trabalho bem dirigido para libertar-se dessas características negativas definitivamente, caso contrário, elas permanecerão dentro de si e mais cedo ou mais tarde, voltarão a se repetir. Não se deve ter medo de descobrir que você nem é tão inocente como pensava e nem tão culpado como temia. Cessar com a atitude constante de provar que se está certo, permitindo-se enxergar a verdade como ela realmente é, sem defesas. Compreenda que, quando alguma coisa em alguém o incomoda, ao invés de entrar em conflito com ele volte-se a si mesmo e aí descobrirá que aquilo que o incomodou provavelmente existe em você também ou então, é o que gostaria de ter ou de ser e não tem ou não é. Quem aprendeu o caminho da sabedoria encontrará nessa pessoa a oportunidade de aprender sobre si e crescer um pouco mais.

Mas, quando um dos dois é emocionalmente imaturo, busca constantemente defeitos e erros no parceiro para se justificar e não se enxergar, alimentando-se com o pensamento de que ele está sempre certo e o outro é quem sempre tem a culpa. Não percebe que esse seu comportamento negativo é muito mais destrutivo do que qualquer coisa que o outro possa realmente ter feito. Este ciclo, por mais tolerante que um possa ser, torna impossível que o amor resista e certamente em algum ponto ocorrerá uma ruptura mais do que justificável.

Somente se ambos despertarem para a necessidade de cada um buscar conhecer a si mesmo individualmente e com real profundidade é que o amor poderá perdurar, pois se o amor acontece a dois, os erros e falhas também."

Dr. Rogério Lansa

2 comentários:

  1. "Chove lá fora e aqui tá tão vazio..."

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  2. Muito bom este texto! Concordo 100%! Excelente! Obrigada pelo post!

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